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Diário da Babilônia: O tamanho do buraco

São quase 300 milhões de armas de fogo na mão de indivíduos nos Estados Unidos. Praticamente um por cidadão, fazendo o país ter o dobro da taxa de posse de armas em mãos privadas que o país que o segue, o Iêmen.

40% das armas compradas nos Estados Unidos são vendidas em feiras ou por anúncios classificados. Nesse caso nenhum tipo de instrução sobre o porte e uso de armas é necessário.
Todos os estados dos Estados Unidos exceto Illinois permitem a posse de armas fora de casa para proteção do indivíduo. Em 1980 eram apenas 5 estados.
A proibição da posse, transferência ou manufatura de armas semi-automáticas que tinha passado em 1994 com o apoio dos três últimos presidentes americanos [Reagan, Carter e Ford]. Essa proibição venceu em 2004 e não foi renovada.
Em 2005 a Florida criou uma lei que extendia o direito de um sujeito defender-se com armas para além da sua casa, mesmo que ficasse estabelecido que o tal sujeito poderia ter simplesmente se retirado do confronto sem perigo de vida.  

O curioso é que a tal cultura das armas parece estar em lento declínio.
Em 1973 uma em cada duas casas nos Estados Unidos tinham armas; em 2010 uma em cada três casas tem armas.
Em 1980 um em cada três estadounidenses era proprietário de uma arma; em 2010 um em cada cinco estadounidenses  é proprietário de uma arma.
Um a cada dois estadounidenses do sexo masculino, um possuía uma arma em 1980; em 2010 um em cada três homens possui uma arma. A proporção entre as mulheres é muito menor mas não diminuiu: uma em cada dez mulheres nos Estados Unidos tem um trabuco.

São mais homens que mulheres, mais brancos que negros, mais gente que vive no campo que gente que vive nas cidades, mais velhos que jovens. Para os ativistas dos direitos de armas de fogo a questão é de direitos civis e o modelo de luta é o de Martin Luther King ao contrário.


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