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Recordar é viver: O Retrato de uma tragédia



Faz tempos que eu fiz este post mas encontrei na animação acima [que vem desse saite incrível] a ilustração perfeita da tragédia descrita com tanta argúcia por Tocqueville:


Em 1831, durante sua longa viagem pelos Estados Unidos, Tocqueville viu os índios Chickasaw e Choctaw, expulsos do estado do Mississippi, atravessando o rio Mississippi  em direção a Oklahoma, uma longa e dolorosa peregrinação conhecida como Trail of Tears [Trilha de Lágrimas]:

“Os índios traziam suas famílias consigo; entre eles estavam os feridos, os doentes, crianças recém-nascidas e idosos a ponto de morrer. Eles não tinham barracas nem carroças; apenas algumas provisões e armas. Eu os vi embarcar para atravessar o grande rio, e o que vi nunca vai se apagar da minha memória. Nenhum soluço ou queixa se levantava daquele agrupamento silencioso. Suas aflições vinham de muito tempo e eles as sentiam como irremediáveis.”

Segue-se uma reflexão arguta para quem quer realmente compreender a cultura dos Estados Unidos:

 “Os espanhóis, com atrocidades que os marcaram com vergonha indelével, não conseguiram exterminar a raça indígena nem puderam fazer com que os índios não compartilhassem seus direitos. Os Estados Unidos conseguiu ambos resultados com incrível facilidade, calmamente, legalmente e filantropicamente, sem derramar sangue e sem violar sequer um dos grandes princípios da moralidade ante os olhos do mundo. Impossível destruir seres humanos com mais respeito pelas leis da humanidade.” 

Falta, é claro, encontrar um mapa semelhante do Brasil, embora nossa tradição não seja esse legalismo cínico típico dos Estados Unidos. Digamos que poderíamos então confrontar dois métodos de espoliação: do lado estadounidense as letras miúdas e emendas em longos contratos assinados e registrados em cartório; do lado brasileiro o famoso "jeitinho", que nos coloca a nós brasileiros mais para a desfaçatez de inquéritos acusando Bakunin de atividades subversivas, seja antes ou depois da independência.

PS. Os Choctaw and Chicasaw são presença marcante na obra de Faulkner e foi através dele que cheguei a Tocqueville.

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