Recomendação sincera para os escritores que vivem sonhando em ter um livro com capinha colorida na livraria do xópincenter e uma resenha com foto no jornalão dominical de sua preferência: visitem [pelo menos virtualmente] a livraria Printed Matter Inc. que fica em Nova Iorque. São centenas de fanzines, revistas, panfletos, livros nos formatos mais curiosos com propostas das mais diferentes, escritos em várias línguas diferentes, inclusive português. Gêneros lá importam nada: prosa que parece poesia, poesia que parece prosa, poesia que parece livro de arte, desenhos, fotos, colagens, tudo misturado. Ou não. Eu sei, talvez seria lindo poder viver num apartamento no Leblon e viver de escrever altas literaturas ou pelo menos algo que magicamente encante as massas consumidoras de Fostão e Fantasmático todos os domingos. Ou talvez não, mas tanto faz porque essa miragem depende de talentos misteriosos e disposição e um bocado de sorte ou uma boa herança. E aí? Você está esperando o quê para se movimentar? Inventar no Brasil é uma questão de sobrevivência, mas o Brasil anda especularmente besta. Não me interprete mal. Continua a existir um monte de gente talentosa fazendo coisas muito boas em todas as áreas da cultura. O problema - como eu o vejo - é que essas pessoas ficam insistindo num modelo de produção e divulgação que simplesmente não se sustenta. O resultado é um imenso lixão precioso onde se encontram pencas e pencas de bons livros, boa música, bons filmes e outras coisas boas que quase ninguém ficou sabendo que andaram dando sopa por aí. E aí, você quer continuar fornecendo para esse lixão onde as coisas não são nem esquecidas porque para esquecer alguma coisa, você precisa saber da existência dela primeiro.
Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia,
que pertence a menos gente
mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia
foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.
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