Recomendação sincera para os escritores que vivem sonhando em ter um livro com capinha colorida na livraria do xópincenter e uma resenha com foto no jornalão dominical de sua preferência: visitem [pelo menos virtualmente] a livraria Printed Matter Inc. que fica em Nova Iorque. São centenas de fanzines, revistas, panfletos, livros nos formatos mais curiosos com propostas das mais diferentes, escritos em várias línguas diferentes, inclusive português. Gêneros lá importam nada: prosa que parece poesia, poesia que parece prosa, poesia que parece livro de arte, desenhos, fotos, colagens, tudo misturado. Ou não. Eu sei, talvez seria lindo poder viver num apartamento no Leblon e viver de escrever altas literaturas ou pelo menos algo que magicamente encante as massas consumidoras de Fostão e Fantasmático todos os domingos. Ou talvez não, mas tanto faz porque essa miragem depende de talentos misteriosos e disposição e um bocado de sorte ou uma boa herança. E aí? Você está esperando o quê para se movimentar? Inventar no Brasil é uma questão de sobrevivência, mas o Brasil anda especularmente besta. Não me interprete mal. Continua a existir um monte de gente talentosa fazendo coisas muito boas em todas as áreas da cultura. O problema - como eu o vejo - é que essas pessoas ficam insistindo num modelo de produção e divulgação que simplesmente não se sustenta. O resultado é um imenso lixão precioso onde se encontram pencas e pencas de bons livros, boa música, bons filmes e outras coisas boas que quase ninguém ficou sabendo que andaram dando sopa por aí. E aí, você quer continuar fornecendo para esse lixão onde as coisas não são nem esquecidas porque para esquecer alguma coisa, você precisa saber da existência dela primeiro.
Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...
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