Era uma vez um elegante encontro entre escritores elegantes
na televisão mexicana, todos fumando, de terno, chamando-se pelo primeiro nome, eloquentes e muito empenhados. De repente um deles (obviamente tinha que ser o estrangeiro) sai-se
com essa: o México do PRI é, na América Latina então ainda cheia de ditaduras
militares recentes e recalcitrantes, a ditadura perfeita. O peruano segue falando, e bem embaixo dele está o símbolo do maior instrumento do último aperfeiçoamento da tal ditadura perfeita, a Televisa. Do outro lado da sala o faraó das letras mexicanas bufa, rabisca notas, engasga e quase
cai da cadeira enquanto o convidado fala na cooptação dos intelectuais mexicanos num evento de cooptação explícita ao novo PRI neo-liberal. O peruano no final começa até a quase desculpar-se por ser "um mal convidado". O faraó, "por amor intelectual à precisão", dá um tapinha no seu jovem seguidor que ousou falar em "ditabranda" e vem falar de sua gloriosa revista salvadora promotora dos valores liberais e principalmente tentar apagar o fogo com uma saraivada de "peraí data vênia não é bem assim não obstante
bla-bla-bla". Mas não há cantifleio que salve o estrago. O ano era 1990. Está tudo lá no
YouTube:
Agorinha, ontem, acaba de sair no México mais um filme de Luis Estrada, o mexicano que, com impressionante consistência, chuta o pau da barraca com toda a força nos seus filmes despudoradamente alusivos a fatos mais ou menos recentes do seu país, desde “A lei de Herodes”. E o título do seu novo filme, justamente: A Ditadura Perfeita. A barraca da vez, outra vez: a atuação contumaz dos monopólios da mídia como ator politico no México, como sustentáculo exatamente de um sistema em que nada realmente significativo pode mudar, como administradora de memes.
Agorinha, ontem, acaba de sair no México mais um filme de Luis Estrada, o mexicano que, com impressionante consistência, chuta o pau da barraca com toda a força nos seus filmes despudoradamente alusivos a fatos mais ou menos recentes do seu país, desde “A lei de Herodes”. E o título do seu novo filme, justamente: A Ditadura Perfeita. A barraca da vez, outra vez: a atuação contumaz dos monopólios da mídia como ator politico no México, como sustentáculo exatamente de um sistema em que nada realmente significativo pode mudar, como administradora de memes.
Pensem na administração atabalhoada mas enfática por parte da mídia da crise começada em junho do ano passado no Brasil. Pensem na eloquência desses dois comentários separados por um par de dias e pontuado por um bando de "de repentes", na operação de sequestro de um momento "lindo e novo" que parecia invenção de mimados membros da classe média que "não valiam 20 centavos". Pensem no que aconteceu quando o governo finalmente resolveu se mover e propôs uma reforma política, na maneira como o interesse geral, a pauta arrefeceu.
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