O grande acidente aéreo de ontem
Jorge de Lima
Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva,
abraçado com a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez,
despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e
pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis
identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de
sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires.
Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida
porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como
se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que
ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de
lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma
capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres
Desenho meu: Esboço para Glossário |
Comments