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Repassando uma biblioteca

Ando catalogando meus livros todos aqui nos Estados Unidos, esvaziando meu escritório na universidade como uma espécie de cerimônia de exorcismo antecipada. Tenho um bando no Brasil, coletando poeira e me esperando para passarmos os invernos juntos - esse ano dei bolo neles e, pelo jeito, ano que vem também vou dar bolo neles outra vez. São livros que envelheceram muito, quase sempre edições bem vagabundas. O ritual me lembra a repassada que eu fiz na biblioteca do meu pai depois que ele morreu, quando aos poucos a história dos interesses e curiosidades dele me apareceram tão claramente.

Não resisti e reabri alguns dos meus livros:

"Galatéia adorada,
Mais cândida e mais bela,
Que a neve congelada,
Que a clara luz da matutina estrela;
Mais, do que o Sol, formosa;
Não digo lírio já, não digo rosa."

"Quando, à noite, o Infinito se levanta
À luz do luar, pelos caminhos quedos
Minha tátil intensidade é tanta
Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!"

"Trópico, para qué me diste
las manos llenas de color."

"Sabemos deles
os apelidos.
Chamar é senti-los
andando em nós."

"... o arranca-toco, o treme-terra, o come-brasa, o pega-à-unha, o fecha-treta, o tira-prosa, o parte-ferro, o rompe-racha, o rompe-e-arrasa: Seu Joãozinho Bem-Bem."

"ou você me ganha ou perde o lance."

"Não consigo parar de esquecer."

"Objects, too, are important.
Some of the time they are.
They can furrow their brow,
even offer forgiveness, of a sort."

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