Arte Minha: colagem e desenho em cartões antigos da biblioteca Sterling |
“Uma só cabeça e vários
tentáculos, várias pernas-tentáculos que se assentam em terras diversas e
variados mares, deles sugando o que podem oferecer e ofertando o produto à
cabeça de um olho ciclópico, montada em um dorso gigantesco de onde saem braços,
de onde saem mãos que selecionam caminhos pelas teclas do computador. A cabeça
vive dilacerada pelos tentáculos que se distanciam em busca de novos apoios. Cada
novo apoio, se não for uma caravela, é uma terra, se não for uma terra, é uma caravela.
Se não for caravela ou terra, é uma tela de computador a ser preenchida.
Sou
espelho do que me liberta e me aprisiona. Tenho o corpo feito de montanhas, das
montanhas onde reina imperiosa uma cabeça, cuja boca proclama que, depois de
uma penosa caminhada, o horizonte é acessível e o respirar menos congestionado.
De lá é que descubro outro horizonte, outras montanhas, outros horizontes mais vastos
e amplos e menos acessíveis pelo caminhar dos pés, o girar das rodas e o zunir
das hélices.”
Silviano Santiago, Viagem ao México, 20
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