Thomas Jefferson |
Essa reflexão me veio a partir da pergunta curta mas interessante de uma amiga sobre o que motiva gente inteligente e não-conservadora a mobilizar-se com tanto empenho contra políticas de combate à desigualdade racial no Brasil.
Num texto sobre a atuação de historiadores mexendo nos vespeiros do passado, John Eliot me ofereceu uma explicação involuntária para o desconforto que as políticas contra a desigualdade racial causam em várias pessoas no Brasil:
“In general, native historians are more likely than
outsiders to be aware of the degree to which a revisionist approach to national
history implies losses as well as gains. Imagined communities are shaped in
large part by a shared recollection of the past, and societies deprived of
cherished memories are threatened by a loosening of the ties that bind them
together. To the extent that those memories are wrapped within myths and
legends, there are understandable grounds for anxiety about what will happen to
the solidarity of the national community when its past is stripped of its
legends.”
J.H.Elliot, History in
the Making (New Haven: Yale University Press, 2012) 49.
Caem "mitos e lendas" sobre a harmonia racial e a docilidade no trato social e resta um grande desconforto na cabeça de muita gente que pensava [e ainda pensa] o Brasil como um lugar que pode contribuir com o mundo com um exemplo de não-sectarismo e de gentileza. O que é que nos une em uma comunidade imaginária? A primeira resposta, instintiva, de muitos brasileiros é que a miscigenação criou um país "moreno". Cai o mito de que a discriminação no Brasil é só reflexo da desigualdade de classe e foi-se o país moreno. E aí fica o quê?
Martin Luther King |
Eu acho que Martin Luther King [ele aqui representando vários como ele que junto com ele construíram a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos] era um gênio político ímpar porque ele habilmente virou contra seus inimigos uma arma poderosíssima, aquele mito que está bem no miolo da comunidade imaginária que se chama Estados Unidos: o mito da democracia liberal perfeita, da constituição do país como bíblia fundadora de uma terra de igualdade e libertade para todos. Com essa arma na mão, tirada sem cerimônia de um bando de escravocratas do final do século XVIII, o discurso de MLK tornou-se irresistível.
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