A. Use e abuse de substantivos de cunho
religioso/ritualístico, como:
Ritual, comunhão, irmandade, o sagrado, o profano,
transcendência, sacerdote, espírito, fantasmas, mácula, manto, oração,
promessa, heresia.
2. Na hora de usar adjetivos, prefira as palavras
proparoxítonas. Se não der para ser uma proparoxítona, que sejam pelo menos palavras
de umas três sílabas. Alguns exemplos:
ritual sarcástico, comunhão orgiástica, irmandade labiríntica,
a transcendência fálica, o sacerdote babélico, fantasmas sáficos, oração
drástica.
3. Volta e meia combine 1 e 2 em oxímoros chiques como:
paternidade orfã, iniciação terminal, oratória blásfema,
mácula regeneradora, fantasmas de carne e osso, sacerdotes orgiásticos, manto
que desnuda e por aí vai.
4. Pronto você já tem os elementos básicos do seu texto, mas
não se esqueça de um ponto essencial. Você precisa agora ser enfaticamente
caga-regra. Se isso não for compatível com o seu temperamente, experimente
começar frases assim:
A poesia só pode existir…
A poesia admite nada além de…
Tudo na poesia…
O poeta não habita a esfera do…
Só poetas que realmente…
São completamente fúteis as tentativas vãs de fazer da
poesia algo que não seja…
5. Você deve mencionar vários poetas mas escolha pelo menos um dos seguintes patriarcas, que você deve mencionar:
Charles Baudelaire
Stéphane Mallarmé
Ezra Pound
T.S. Elliot
Vladimir Maiakóvski
E adicione pelo menos um poeta qualquer de antes do século XIX.
6. Vamos colocar tudo o que aprendemos em prática? Lá vai:
A poesia só pode existir onde a oratória blásfema se
encontra com a mácula regeneradora da palavra no tecido sensível de um manto
que desnuda os fantasmas de carne e osso que habitam nossa vida vazia e
anti-tântrica. Tudo na poesia é da lei da desobediência.
O poeta não habita na esfera dessa paternidade órfã que
dessensibiliza o humano e destrói o direito de seguir a regra da transgressão. Ele
não pode fazê-lo sem deixar então de ser poeta e se transformar num mero
arranjador de flores apodrecidas.
A ordem transgressora de Pound, o erotismo sacro de Bashô. Mallarmé de pijamas, Diderot de cuecas, Góngora de biquini e Homero sem filtro solar. Ou então, nada valerá a pena.
Comments
Sérgio Buarque de Holanda
Ri muito!