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Antônio Lopes de Oliveira, de uniforme |
Belo Horizonte, 1896
Capitão Antônio
Lopes de Oliveira,
pela melhor
sociedade estimado
e temido
pela gente mal procedida:
raros se
revoltavam contra a sua energia
e pagavam
caro a sua ousadia:
Recolhia-os
ao xadrez de sua delegacia,
depois de
fazê-los saborear
as doçuras dos marmeleiros do quintal...
Graças às marmeladas
do capitão Lopes
e a fúria
do terrível sargento Felão
a cidade de
cá em perfeita paz se construía
apesar dos
seis mil operários chegados da noite pro dia
apesar da
epidemia de ladrões de galinha
apesar dos
bares mal-frequentados
que feito
cogumelos escuros apareciam
lá na Zona
Oeste onde a escumalha construía
os barracos
onde a pobreza se escondia.
Na entrada
da farmácia
a melhor
sociedade se reunia.
Um
reclamava do contínuo
que deixava
a poeira dos canteiros
descansar no
escritório que ele mesmo abria
porque
agora o sujeito já não chegava
antes das oito
porque agora cantava na missa
“vê se pode,”
o patrão se carpia,
“antes o couro cantava nos pretos da cidade
agora são os
pretos que cantam no coro.”
Obs. Esse é um mash-up, isto é, praticamente todas as palavras do poeta saíram de textos em prosa de Abílio Barreto sobre a construção de Belo Horizonte. Ah, como eu gostaria de saber o nome e sobrenome e ter uma fotografia do tal contínuo que os bacanas da cidade chamam de "negrinho", e que se recusava a chegar mais cedo que os outros para limpar o escritório porque tinha que cantar no coro da missa! Infelizmente esses personagens não interessavam aos que escreveram a história da cidade. Nesses textos eles muitas vezes entram e saem mudos e geralmente andam em grandes coletivos, como "a gente mal procedida" que construía nas poucas horas vagas a favela no córrego do Leitão e provava das "marmeladas" do Capitão Lopes, que por sua vez, certamente por seus excelentes serviços à paz social da nossa primeira Brasília é "preseanteado" por Abílio Barreto com o adjetivo "moreno escuro".
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