Olho pra fora, não fujo, não quero mais me sentir outro, de fora; quero a comunhão barata do barulho dos carros, da gente, do rádio. Ainda está tudo do lado de fora, do outro lado da mesa, o outro lado da porta de vidro: gente dando as mãos, atravessando a rua, chorando, sorrindo, sozinhos, em bando, em dupla, nascendo, amadurecendo, secando, morrendo. Um par de folhas de um broto cai no chão, a chuva cai e leva as duas juntas, que escurecem podres e já não são mais folhas, tudo o que há e que houve e que há de ser depositando-se em centenas de anos, em camadas no sangue, nos ossos, na carne, na língua, tão minha quanto de quem mais quiser, minha e dos dois garotos que passam lá fora conversando um futuro besta, minha e da mulher que passa carregando seus desapontamentos nas costas, minha e do senhor que se arrasta como um deus de chapéu e terno riscado, minha e de você que me lê agora e é assim meu quase irmão, meu pai e meu filho e reconhece aqui agora alguma coisa de dentro de um qu...